sexta-feira, 8 de agosto de 2008

"Apotegmas": sabedoria do deserto.



As raízes primitivas da tradição contemplativa são sem dúvida os Evangelhos e a vida de oração de Jesus, que buscava freqüentemente o silêncio e solidão para estar em comunhão com seu Pai. Ele falava do Reino interior, dizendo-nos para ao rezar, entrarmos em nosso quarto, fechar a porta e lá, orar ao mesmo Pai no qual nos assegura sua união e a nossa, através dEle. Um dos pilares da tradição cristã é que temos em Jesus de Nazaré em suas parábolas e estórias, na tradição do Evangelho, uma entrevisão do que sejam as possibilidades do desenvolvimento humano. Temos uma visão de um Deus de Amor do qual somos parte inerente e também que podemos abrir-nos a união de toda nossa vida, todo nosso ser nesse Deus, e fazer disso uma imensa e ilimitada capacidade de dar e receber amor. Muitas vezes, entretanto, nem sempre temos a certeza de como caminhar nessa trilha, o "caminho estreito" do qual Jesus falava, que nos possibilite fazer dessa transformação uma realidade.Falando de transformação somos lembrados de que na prática da oração contemplativa somos parte de uma tradição antiga que remonta às comunidades primitivas nos desertos da África e no Oriente Médio. Isto pode ajudar-nos a refletir sobre a tradição dos Padres e Madres do Deserto, como uma das primeiras tentativas de cristãos viverem radicalmente o Evangelho, de uma forma mais sincera e radical, de tornar-se bom como Deus é bom e aprender a amar verdadeiramente como Jesus ensinou.No Abbá (pai) ou na Amma (mãe) do deserto não se buscava uma teoria, mas uma "palavra", no grego apotegma, um exemplo de vida, um caminho para progredir na vida espiritual. Muitos desses ensinamentos nasceram das respostas às perguntas dos jovens discípulos ou de pequenas histórias envolvendo variados temas da vida espiritual, além de ser fruto da santidade de vida dos "atletas de Deus".Seguem, portanto, alguns desses "ditos":




Sobre ouvir e praticar a Escritura

  1. Disse um ancião: "Quando te levantas após teres dormido, logo, como primeira coisa, a tua boca renda glória a Deus. Deves entoar hinos e salmos para que o espírito continue a triturar o dia inteiro, como um esmeril, o primeiro pensamento ao qual se uniu desde a aurora, quer se trate de grão, quer se trate de cizânia. Por isso, deves ser sempre o primeiro a jogar o grão, antes que teu inimigo semeie cizânia".


Sobre Deus


  1. Se o homem não fala a seu coração: 'Deus e eu estamos sozinhos no mundo', nunca encontrará descanso", dizia o Abbá Alônio.Um ancião disse: "Quando um se faz louco pelo Senhor, na mesma proporção o Senhor o tornará sábio".


  2. Dizia um ancião: "Um homem pode não ser bom mesmo se tenha a vontade de sê-lo e se esforce com todas as suas forças, se Deus não habita nele, pois ninguém é bom senão Deus".


  3. Alguém perguntou ao Abbá Antão: "O que devo fazer para agradar a Deus?" Respondeu o ancião:"Faz aquilo que te digo: onde quer que fores, tem sempre Deus diante dos olhos; o que quer fizeres, apoia-te no fundamento da Sagrada Escritura; onde quer que mores não vai embora logo. Guarda essas três coisas e serás salvo".


  4. Um irmão perguntou a um ancião: "que pensamentos devo ter em meu coração?". Respondeu o ancião: "Tudo aquilo que o homem pensa sobre o céu e abaixo do céu é vaidade, mas quem persevera na recordação de Jesus está na verdade".


Sobre a paz


  1. Perguntou-se a um ancião: "Porque acontece que eu me canso sempre?". "Porque ainda não conhece a meta", respondeu.


Fonte: BESEN, Pe. José Artulino. Pais e Mães do deserto. Mundo e missão, São Paulo. 2006.site: www.psleo.com.br/padres_des03.htm. acessado dia 08/08/08.

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